WWF alerta para perigo no retrocesso na política de alimentação escolar lisboeta
27 Outubro 2025
A WWF Portugal manifesta grande preocupação em relação à nova política de alimentação escolar anunciada pela Câmara Municipal de Lisboa que diz que, a partir de janeiro de 2026, a opção por refeições sem carne deixará de estar visível no painel de marcações, e passará a ser disponibilizada exclusivamente para alunos cujas famílias se declarem formalmente como vegetarianas.
Ao assumir que crianças não-vegetarianas devem consumir proteína de origem animal todos os dias, a Câmara Municipal não leva em consideração as evidências científicas que demonstram o impacto que as dietas têm na saúde e no planeta. Os sistemas alimentares são responsáveis por cerca de 30% das emissões de CO₂ em Portugal e apresentam uma pegada hídrica significativa, especialmente no caso da carne de vaca. Para além das emissões e do consumo de recursos, importa destacar que uma parte relevante da carne consumida em Portugal é importada de países onde a pecuária extensiva contribui diretamente para a desflorestação, com consequências graves para a biodiversidade e para o equilíbrio climático global. Adicionalmente, o consumo excessivo de carne, em particular de carnes vermelhas, está associado a riscos acrescidos para a saúde, como doenças cardiovasculares, obesidade e certos tipos de cancro, o que representa também um desafio para o sistema nacional de saúde.
Para Bianca Mattos, Coordenadora de Políticas na WWF Portugal, “oferecer alternativas apenas para famílias declaradamente vegetarianas é um enorme equívoco e extremamente limitador. A opção pela redução do consumo de proteína animal deve ser incentivada e disponibilizada a todas as crianças, pois não se trata de uma restrição alimentar e sim uma opção por uma dieta mais saudável e sustentável. Refeições com proteínas de origem vegetal (com leguminosas como ervilhas, feijão, lentilhas e favas), para além de reduzirem o impacto ambiental da alimentação, são saudáveis, nutritivas, equilibradas, saborosas e trazem um componente importante de diversificação das dietas, que é ainda mais importante do ponto de vista nutricional.”
Diversas cidades em todo o mundo já perceberam o valor da promoção do consumo de proteínas de origem vegetal e o potencial da alimentação escolar neste sentido, já que mobilizam a agricultura local e trazem também benefícios económicos. “É fundamental que a Câmara Municipal de Lisboa reveja esta política e se posicione ao lado dos municípios mais modernos do mundo, que reconhecem o seu papel no combate à crise climática e integram a perspetiva da sustentabilidade de maneira transversal nas políticas públicas”, reitera Bianca Mattos.